quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Acordei , estava terrivelmente determinada em juntar algumas vogais e consoantes . Todas as vírgulas e pontos finais , essas pausas curtas e as mais prolongadas , esqueço – as e prendo – as num vazio distante . Não permiti que impusessem qualquer barreira temporal ao que queria escrever . Preparei – me , tudo o que consegui foi riscar numa folha alguns traços pouco coerentes . Meras palavras , sem nexo , surgiam na minha mente e apontava – as de lado , na folha . Da caneta pareciam irromper todas as letras que queria usar mas parecia ter esquecido . De momento , aquilo que lia não me queria parecer fazer sentido , amachuquei a folha . Estava prestes a atira – la fora quando um sentimento de arrependimento me invadiu de forma voraz enquanto a abri cuidadosamente . Estava tudo ali , quantas vezes pensei que não sabia de onde tudo aquilo tinha saído nem se teria importância alguma mas de certa forma a minha alma transparecia naquele pedaço de papel . Foi então que percebi que a maior parte das vezes cerramos de maneira tão forte os olhos que não nos apercebemos do verdadeiro valor daquilo que criamos . Nem tudo o que escrevemos é capaz de ser entendido por alguns , muito menos por todos , mas o verdadeiro objectivo é que a mensagem impressa em cada linha nos encha todas as medidas a nós mesmos , que apenas e somente nos orgulhe , que de algum modo seja capaz de nos ajudar e que no fim nos faça ter vontade de esboçar um sorriso .

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Borboleta que pairas,
Que sobrevoas a lua prateada cintilante,
Lembras a simplicidade de um momento.
Imagino uma noite de Verão,
Sentada nas escadas, a sentir o vento quente,
A minha face alegra-se, a sensação é perfeita.
Vejo luzinhas no ar, é tão bom viver sem preocupações,
Aproveitar o mais ínfimo pormenor deste mundo.
Sentir a água escorrer pelo queixo,
Ao mesmo tempo matando a sede.
Partilhar cada minuto com quem mais amamos,
Sem ser necessário grandes planos.
Depois, quando recordamos,
Um sorriso instala-se permanentemente,
Sabemos que soube bem, que somos felizes.
Um simples voo de uma borboleta,
Faz dela um ser feliz pois é vivo,
Um simples momento com alguém que amamos,
Faz de nós o quê?
Sou feliz pois tenho esses momentos!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Palavras,
Pequenos pedaços de céu envoltos de mel,

Ladeados de cordel fino de oiro.
Pétalas da mais bela flor,
Perfeitamente utilizadas quando genuínas.
Raíz da voz,
Transformação do invisível mais visível.
Aquilo que se sente invertido no sólido,
Elevado ao divino,
Não a uma mera quimera.
A forma mais acessível do inacessível,
Caminho certo no maior dos labirintos.
Desconfundir do facto mais confuso,
Descomplicar da era mais emaranhada.
Raiar do sol que teima em se esconder,
Anoitecer que teima em se manter.
Construção do inconstruível,
Imaginação do inimaginável.
Prevalece o seu poder,
Quando o mais obvio é expresso,
Uma simples folha, uma caneta, letras conjugadas,
Enfim, palavras!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Por momentos, aqueles anos em que riscava, com traços grosseiros de giz, sete quadrados, um tanto ou quanto desproporcionais uns aos outros no chão, irrompem a minha mente.
Em dias de chuva, é como se inevitável fosse, recordo o solo do páteo da escola primária, todo lamaçento, em que faziamos uma covinha e jogavamos ao berlinde. O S. Martinho invadia os nossos minutos todos, saltar a fogueira e queimar as roupas, comer as castanhas, beber o sumo. Era doida por aquelas castanhas, acabadinhas de sair da fogueira.
Chegado o Verão, o calor, lembro que para nós era tentador subir aos locais mais perigosos, sem nunca concluir que podiamos cair dali. Brincar às escondidinhas e à apanhada.
Não esqueço o quão frágil era, o facto da Sra. Palmira ( única funcionária ) ter de me sentar no seu colo e dar-me a comer o lanche que a minha mãe me mandava para a escola, porque a vontade de brincar era maior e esquecia tudo o resto.
Os pequenos, grandes amigos que fiz, uns que nunca mais vi, outros que permanecem. Tudo o que aprendi.
De repente, aparece tudo à minha frente de novo e sorrio, fui tão feliz naquela escola. Agora, vendo tudo aquilo transformado num rancho, quis visitar, vi tudo de outra forma, com outro uso, ficou perfeito, encantador.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Quem sou eu? Apeteceu-me divagar nesta região do meu pensamento tão vasta e obscura. Obter a resposta torna-se bem mais duro do que imaginava. Que espécie de ser sou eu? Na realidade, por mais que tente percorrer as fases desta descoberta, a resposta é sempre nula ou muito pouco objectiva. A verdadeira resposta esconde-se de mim mesma e teima em não surgir. Provavelmente já se mostrou a algumas pessoas mas não se deixa vislumbrar por mim. Quando conseguirei saber quem sou eu na totalidade? Nunca? Na verdade, pouco me importa, o que sou, mesmo não sabendo o que é, não me envergonha, não me desilude, cativa aqueles que tem de cativar, e isso é o que mais me agrada.